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Os jovens andam a ler menos? Uma reflexão sobre os novos hábitos de leitura

Todos já ouvimos estas palavras proferidas pela generalidade da população, ou até em artigos de jornais e revistas – “os jovens já não leem” “os jovens passam muito tempo no computador/telemóvel” ou até “os jovens são incultos porque não leem literatura de qualidade”. Mas será isto verdade?





Neste artigo, não tenciono falar sobre a venda de livros físicos, nem sobre o mercado livreiro dedicado aos mais jovens (Teen, Young Adult, New Adult, etc), nem na eterna batalha clássicos vs romances contemporâneos, pois são temas que dão “pano para mangas” e poderão ser abordados por si noutros artigos, mas sim sobre outras maneiras como os jovens estão a consumir histórias, e que facilmente são esquecidas quando se proferem as afirmações acima mencionadas.


A evolução da tecnologia trouxe-nos novos hábitos de leitura, e não considero que tenham resultado num decréscimo dos jovens pela leitura, pelo contrário, abriu novos horizontes. Vou dar o exemplo de três que são muitas vezes esquecidas quando se fala de hábitos de leitura:

1- Os E-Books


O e-book, ou livro electrónico, já está presente no mercado editorial internacional há muitos anos, embora tenha havido alguma resistência das editoras portuguesas em aderir a este formato. Muitas pessoas resistem também devido ao amor que têm ao livro em papel (e como não amar?), mas a verdade é que os e-books vieram para ficar, e com a pandemia até houve um aumento na venda destes livros (fonte). A partir deste aumento, várias editoras começaram a vender, a fazer promoções e até a oferecer livros digitais ao público.

O consumo de livros electrónicos pode ser feito no computador, no tablet, no telemóvel ou em e-readers como o Kobo e o Kindle. Não é raro ver pessoas, jovens incluídos, a ler histórias no seu telemóvel ou tablet, ou que me leva ao próximo ponto.

2- Wattpad e outras plataformas de auto-publicação online


O Wattpad, apesar da sua reputação, tem sido uma ferramenta útil para não só vários escritores exporem os seus trabalhos, como também para vários leitores descobrirem novas histórias. Aliás, o Wattpad chega a ter 80 milhões de leitores por mês (fonte), e isto não é representativo da quantidade de pessoas que procuram esta plataforma para lerem, não sei o que será.


Além do Wattpad, outra plataforma interessante é o Swoon Reads que, além de ser um site onde as pessoas podem colocar o seu manuscrito gratuitamente para ler, os manuscritos mais votados e comentados pelos leitores serão publicados em livro físico pela editora.

Mas nem todos os escritores usam estas plataformas. Alguns usam editoras independentes ou fazem auto-publicação dos seus livros, promovendo-os nas suas redes sociais e dando a conhecer a sua obra. O nicho da auto-publicação é muitas vezes ignorado e até renegado, mas centenas de livros são vendidos todos os anos, e é um mercado em grande crescimento (fonte).

3- Video-jogos


Há uns anos um grande amigo ofereceu-me um jogo de computador fora do comum, chamado Dear Esther. Neste jogo, o jogador percorre uma ilha na Escócia (com paisagens lindíssimas) e vai apanhado cartas ao longo do caminho de um homem angustiado para a sua mulher morta. À medida que vamos apanhando mais cartas e as vamos lendo, vamos desconstruindo o que realmente aconteceu e a origem da sua morte misteriosa. Quando cheguei ao fim, apercebi-me que naquelas horas em que percorri as montanhas e lagos do jogo, tinha acabado de ler um policial. E como este jogo, há tantos outros, milhares deles, que nos contam uma história, a qual vamos descobrindo e lendo de uma maneira interactiva (e até interagindo).


Além destes jogos, há também apps de telemóvel, como o Journeys, no qual o jogador acompanha uma história interactiva e vai decidindo o futuro da(s) personagen(s) através das suas opções, ou o Mystic Messenger, onde vamos interagindo e avançando na história através de um sistema muito semelhante à troca de SMS. Também existem apps que nos contam histórias através da troca de SMS, onde assistindo à conversa entre duas pessoas vamos lendo uma história, como é o caso da app Twist – Scary Texting Stories.

Portanto, andam os jovens a ler menos? Penso que devemos reformular esta pergunta – andam os jovens, e não só, a consumir literatura por outros meios fora do convencional? Eu diria que a resposta é sim. E vocês?


Escrito por: Leonor Ferrão

O meu nome é Leonor Ferrão e nasci a 20 de Novembro de 1992 na cidade de Lisboa, e sou formada em Conservação e Restauro de Bens Culturais. Além de uma leitora assídua, sou também uma artista e estou sempre à procura de maneiras de me expressar, seja pela escrita, fotografia, ilustração, música ou até cosplay, sempre na companhia do meu gato Maine Coon, o Matthew Clawley. Durante muitos anos fui directora e co-criadora da revista Nanozine, uma fanzine independente de publicação e promoção de autores portugueses.

Tenho contos publicados em várias Antologias, onde se incluiem a Antologia Talentos Fantásticos 2009 e o Almanaque Steampunk 2019, e colaborei com alguns contos na plataforma Fantasy & Co. Também tenho ilustrações publicadas em livros como a antologia Por Mundos Divergentes e na fanzine Lusitânia. Além destes contos, tenho também 13 livros na gaveta à espera que eu ganhe coragem para os rever.

Como escrever é uma paixão, gosto muito de partilhar este gosto com outros, sendo que desde 2012 que sou Municipal Liaison da região de Lisboa no evento internacional NaNoWriMo.

Inspiro-me constantemente no mundo que me rodeia, principalmente na Natureza, na música e nas viagens que faço sozinha pelo mundo. A minha maior ambição é viver numa cabana na floresta a criar obras que façam sonhar as pessoas.

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